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Sendo março o mês “da mulher” postarei alguns poemas de Murilo Mendes à sua homenagem. Deveríamos desconfiar, entretanto, das verdades que dependem de datas fixas! Data de relembrarmos as mulheres? Homenageá-las por sua importância na vida? Nesse caso, então, a própria vida presta-lhes suficiente homenagem, que, como tal, dispensa o calendário.
Dizem que a poesia é bonita quando “rara”. O problema é que o “raro” em arte, normalmente, é o óbvio trazido à tona: beleza que o poeta resgata indicando sua necessária permanência, apesar da realidade ocultá-la continuamente. Deveríamos acrescentar, quem sabe, uma questão simples toda vez que somos assaltados pela beleza de um verso, de uma música, etc: "Se é tão óbvio, o que impede todos de ver?" - Enfim... Murilo Mendes:
Mulher Vista do Alto de uma Pirâmide.
Eu vejo em ti as épocas que já viveste
E as épocas que ainda tens para viver.
Minha ternura é feita de todas as ternuras
Que descem sobre nós desde o começo de Adão.
Estás engrenada nas formas
Que se engrenam em outras desde o começo dos séculos.
E outras formas estão ansiosas por despontarem em ti.
Quando eu te contemplo
Vejo tatuada em teu corpo
A história de todas as gerações.
Encerras em ti teus ascendentes até o primeiro par,
Encerras teu filho, tua neta e a neta de tua neta.
Mulher, tu és a convergência de dois mundos.
Quando te olho a extensão do tempo se desdobra ante mim.
(Murilo Mendes)
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