domingo, 6 de março de 2011

Aedos Modernos

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A "normalidade" dos dias é um véu que encobre as verdadeiras leis do tempo. “Para tudo há seu tempo”, é uma frase esvaziada de sentido, e este vazio preenchia-se outrora pelo lugar agora vago da poesia. Ambigüidade desgastante, sem dúvida, mas, quem consegue hoje em dia tratar de literatura a não ser pela crença inconsciente de que ela compensará a monotonia dos fatos? Sabe-se que a ironia é a forma defensiva de que se reveste a verdade quando ninguém lhe dá ouvidos, nesse sentido, afirmo: e nunca a vida teve tanto poder sobre a arte!

As pessoas lançam-se de testa contra a vida, sem mirá-la nos olhos, engolindo-a por meio de ações definitivas e sem volta – como se a incoerência fosse caminho reto para a felicidade. Disse Guimarães Rosa que o nada é uma faca pouco afiada e sem cabo. Trata-se de uma redundância, claro: faca pouco afiada torna-se, toda ela, cabo; logo: não é faca. A repetição do óbvio transforma-o em novidade, por isso lanço mão de uma obviedade para vencer os recuos do niilismo contemporâneo, e digo: a literatura perde cotidianamente seu lugar na vida!

A contradição ilumina: seria instrutivo aproximar a conclusão dos dois últimos parágrafos.

É nesse cotidiano que se debate o poeta. A violência menos brutal é apresentada como alternativa á brutalidade generalizada. Mas, o que seria “violência menos brutal”? O poeta entoa seu lamento lavado à cafeína num canto escuro de alcova, mas -saibam todos- não são problemas habituais de maioridade poética: simplesmente torce para que o fim do dia não leve consigo a consciência e a luz de seu ofício  – que o tédio lhe seja piedoso.


João.

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Um comentário:

  1. - "que o tédio lhe seja piedoso" me parece um complemento à "violência menos brutal". Talvez a violência pudesse ser menos intediante e a brutalidade cada vez menos piedosa com o bruto.Ou sei lá...

    ps. hahahahaha, é que são idéias muito verdadeiras, ambas. Não consigo confiar em alguém cujos olhos refletem o céu que pode ser qualquer céu, ela nunca está olhando pra mim, sempre pro mar ou pro céu. E quanto as pessoas que gostam de todas as coisas pra porra, me encabula, me da uma inveja tão irritante.

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