sábado, 18 de dezembro de 2010

Intolerância

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Na madrugada desta segunda-feira quatro jovens saíram para se divertir em São Paulo. Nada mais comum que isso, exceto pelo divertimento escolhido: caçar homossexuais, literalmente, e espancá-los. É inútil perguntar como alguém pode “resolver” divertir-se dessa forma; a pergunta correta é essa: “Qual o nível mental dessas pessoas?”. Trata-se mesmo, seguramente, de uma incapacidade de decisão, da inexistência absoluta de humanidade.

Este tema do fascismo é importante, pois - além da obrigação de o denunciarmos incansavelmente - possui uma particularidade atual: reveste-se de diversas roupagens diferenciadas, justificativas paradoxais, e, até mesmo, humanistas. Não se trata, portanto, de apreender e desmascarar as formas variáveis que toma, pois, nesse caso, é provável que nos perdêssemos num pântano infinito, para além de quantas são as formas reconhecíveis de preconceitos. 

Não é difícil concluir que estes jovens que massacraram homossexuais na noite passada foram motivados por um impulso cego, mas, de forma idêntica, as manifestações fascistas assustadoras das últimas semanas contra nordestinos, mesmo que largamente tratado na mídia – ou exatamente por isso! – resultaram em coisa não menos pior, com o espancamento e assassinato de uma jovem de vinte e um anos. 

O ponto comum que prevalece nessas diferentes e diárias manifestações da barbárie é a comprovação mais uma vez de que o fascismo identifica no simples fenômeno da existência humana a verdadeira origem motivacional de sua destruição – independente se judeu, negro, gay, pobre, nordestino, mulher, etc., pois o problema do Capital continua a ser o trabalho (= homem), e o problema do homem (= trabalho), continua a ser o capitalismo. A tese clássica de que os regimes fascistas constituem a última cartada política do capitalismo em momentos de crise aguda permanece atual, só que, com um acréscimo importante: as crises agudas deste corpo histórico gangrenado se tornaram permanentes. 

A vertigem do discurso pequeno-burguês não nos deixa compreender a verdadeira origem dos problemas. Assim, por exemplo, na maioria das manifestações de repúdio à violência, apresenta-se alternativas para a solução do problema que geralmente reproduzem as mesmas condições que o geraram, conforme aquela velha máxima miserável de julgar a vida: “A tentação é insuportável, mas erra quem se deixa cair em tentação”.

Até quando a moderna “sociedade digital globalizada", com seu conforto de mentira e suas luzes coloridas, poderá esquivar-se das sombras e das contradições que habita em suas mais "remotas" profundezas?
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(João)


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