domingo, 11 de agosto de 2013

Os medos do regime.

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I

Um estrangeiro, voltando de uma viagem ao Terceiro Reich
Ao ser perguntado sobre quem realmente governa lá, respondeu:
O medo.


II

Amedrontado
O erudito para no meio de uma discussão e observa
Pálido, as paredes finas de seu gabinete. O professor
Não consegue dormir, preocupado
Com uma frase ambígua que o inspetor deixou escapar.
A velha senhora na mercearia
Coloca os dedos trêmulos sobre a boca, para conter
O xingamento sobre a farinha ruim.
Amedrontado
O médico vê as marcas de estrangulamento em seu paciente, e cheios
de medo
Os pais olham os filhos como se olhassem para traidores.
Mesmo os moribundos
Amortecem a voz que sai com dificuldade, ao
Despedirem-se dos seus parentes.


III

Mas também os policiais (camisas-marrons)
Tem medo do homem que não levanta os braços
E ficam aterrorizados diante daquele
Que lhes deseja um bom dia.
As vozes agudas dos que dão ordens
Tem tanto medo quanto os guinchos
Dos porcos, a esperar a faca do açougueiro, e os mais gordos traseiros
Transpiram medo nas cadeiras do escritório.
Impelidos pelo medo
Eles irrompem nas casas e fazem buscas nos sanitários
E é o medo que os faz
Queimar bibliotecas inteiras. Assim
O temor domina não apenas os dominados, mas também
Os dominadores.


IV

Por que
Temem tanto a palavra clara?


V

Em vista do poder imenso do regime
De seus campos de concentração e câmaras de tortura
De seus bem nutridos policiais
Dos juízes intimidados ou corruptos
De seus arquivos com listas de suspeitos
Que ocupam prédios inteiros até o teto
Seria de acreditar que o poder não temeria
Uma palavra clara de um homem simples


VI

Mas esse regime lembra
A construção do assírio Tar, aquela fortaleza poderosa
Que, diz a lenda, não podia ser tomada por nenhum exército, mas que
Através de uma única palavra clara, pronunciada no interior
Desfez-se em pó.


(Bertolt Brecht)

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